Conceito de Educação deve mudar
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''Não é possível pensar em sociedade sustentável  com uma Educação para os nossos filhos e outra para os filhos dos  outros'', diz o filósofo e educador colombiano Bernado Toro
Educação, para Bernado Toro, filósofo e educador colombiano conhecido  pela defesa da escola igual para todos, deve ser fator de aglutinação.  "Não é possível pensar em sociedade sustentável com uma educação para os  nossos filhos e outra para os filhos dos outros", diz. "Não é possível  propor uma sociedade inclusiva com dois tipos de educação."
Em debate sobre a "Educação para a Sustentabilidade", durante a  conferência do Ethos realizada esta semana, Toro alertou que a economia  sustentável não combina com o critério de ganhar e perder.
"O ganha-ganha é hoje o maior desafio pedagógico de ensinar como lidar  com o emocional, político, econômico, social, cultural e até  espiritual."
Toro enfatizou também a importância da aprendizagem do cuidado em todo  processo educativo - saber cuidar de si, do outro, do intelecto, do  planeta e da espiritualidade. E falou ainda da cultura da hospitalidade -  "sem ela os grandes países vão fazer matanças contra imigrantes".
Para chegar pelo menos perto da educação sustentável a que Toro se  refere são necessárias profundas transformações nos currículos  escolares. Com isso concordou Antonio Carlos Ronca, representante do  Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Conselho Nacional de Educação  (CNE). Por lei, segundo Ronca, os currículos deveriam ter educação  ambiental de forma transversal em todas as disciplinas.
"Os conceitos de educação sustentável passam distante do aluno, que  aprende regra de três, raiz quadrada, num currículo amarrado, com  conhecimentos ministrados há séculos", disse Ronca. "Incluir novos  conceitos é uma questão de sobrevivência", afirmou. Ronca advertiu ainda  que a única forma de vencer o analfabetismo é a opção das escolas pela  sustentabilidade.
O presidente do Grupo de Empresas e Fundações (Gife), Fernando  Rossetti, foi a voz do investimento social privado em educação. Entre as  130 organizações que compõem o Gife, 20% a 25% dos investimentos são  aplicados na educação - 60% das ações são concentradas nas áreas de  atuação das empresas.
"O setor privado aplica no setor público para elevar os níveis de  educação no país", disse Rossetti. "O Todos Pela Educação[articulado por  empresas] é um movimento que nasceu no setor privado para que todos  tenham acesso a educação de qualidade", citou como exemplo.
A articulação dos jovens em torno dos temas ambientais foi destacada  por Rangel Mohedano, consultor em políticas públicas de juventude e meio  ambiente. "O papel da educação para a sustentabilidade é trazer as  questões para enfrentar as crises; é olhar para os próprios erros",  disse.
Para Rangel, a geração atual é estratégica para a mudança de modelo. "É  a mais vulnerável, sem acesso às ferramentas e sem conhecimento  necessário para o desafio."
Para que a sustentabilidade faça parte da educação é necessário pensar a  escola como espaço de construção da cidadania, de construção de um país  novo, na opinião de Roberto Leão, da Confederação Nacional dos  Professores. "O Brasil precisa de um projeto de política de  financiamento que vá além dos 5% que o governo aplica em educação",  disse.
O papel da escola é fundamental para a sustentabilidade, na opinião de  Leão. "Quando há respeito à diversidade, o resultado é  sustentabilidade", disse.
Leão advertiu ainda que um novo paradigma para a educação não pode  conviver com a tolerância ao analfabetismo, nem com trabalho escravo.  "Não se pode admitir que a sétima economia do mundo conviva com trabalho  escravo".
Roberto Leão considera fundamental que a Rio + 20, conferência das  Nações Unidas sobre economia verde que será realizada ano que vem,  inclua a educação entre os temas.
Vera Masagão, diretora da Associação Brasileira das Organizações Não  Governamentais (Abong), lembrou que na Rio 92 um novo ator político  surgiu em cena - justamente as ONGs.
"Surgiu uma nova forma de organizar a sociedade civil para suprir a  ausência do Estado", disse ela. "Desse projeto social nasceu uma nova  forma de fazer política; e um dos espaços mais apropriados para a  juventude é a prática política."
Rangel, que representa a juventude e o meio ambiente, disse que a nova  geração está longe de ser passiva. "Estamos fazendo uma revolução  silenciosa; é só olhar para a transformação dos jovens e constatar".
Roberto Leão, do Centro do Professorado, ressaltou que a valorização  dos professores está na remuneração, mas principalmente numa formação  consistente e sólida. "Escola pública tem de valorizar além do português  e matemática", disse. "Escola precisa mais dinheiro e gestão de  qualidade", disse.
Para ele, o professor precisa conhecer a escola e a história da escola  para entender o atual modelo, "até para ter condições de mudar tudo".
Leão advertiu que a escola não é nem pode ser espaço para competição.  "Competição não faz avançar; o que faz avançar de verdade é a  solidariedade, a construção coletiva." Para Vera Masagão, além da  solidariedade, a discussão deveria ficar centrada na nova economia, na  nova política. "A educação deve ser focada em direitos iguais", afirmou.
Em uma das consultas realizadas junto aos participantes da conferência  do Ethos, 96% consideraram que os educadores não têm o papel que  deveriam na formulação de propostas para a Rio + 20. Em outra questão,  se a sociedade está preparada para pagar aos professores salários  condizentes ao que a sociedade exige deles, a plateia ficou dividida:  54% (sim) contra 46% (não).
Em sua fala final, Antonio Carlos Ronca, adiantou que o Conselho  Nacional de Educação acaba de lançar as diretrizes para a nova educação  infantil e para os ensinos fundamental e médio. "Estamos finalizando as  diretrizes para o ensino profissionalizante. "Nosso desafio é lançar as  diretrizes para a educação ambiental."
Rossetti, do Gife, criticou as escolas por seguirem os conceitos da  revolução industrial. "A linha de montagem que surgiu nas escolas com  professores específicos para cada fase emergiu de uma revolução  industrial que não está preparada para uma sociedade mais justa e  responsável", avaliou.
Toro resumiu o que acredita ser a transformação que todos buscam: "Ter  um projeto de vida pessoal, abrir espaço para a possibilidade de dar e  receber ajuda e multiplicar a informação acumulada", disse. "O resto  está no Google."
 
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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