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| MEC/ Divulgulgação | 
Extinguir a Secretaria de Educação a Distância do Ministério da  Educação (MEC) — medida anunciada em janeiro pela Presidência da  República — foi prematuro e aumentou o risco de a modalidade ficar em  segundo plano. A avaliação é do diretor de Educação a Distância (EaD) da  Universidade Anhanguera, José Manuel Moran.
 
“A lógica é entrar em uma normalidade, contemplando os mesmos  instrumentos para as modalidades a distância e presencial”, avalia o  especialista. “Porém, dependendo de como esse processo seja feito, a  educação a distância corre o risco de não ser prioridade tendo em vista  as outras demandas do MEC.”
Os projetos da Secretaria de Educação a Distância migraram para a  Secretaria de Educação Básica ou de Ensino Superior. Segundo o MEC, a  ideia é que, com o crescimento da modalidade, ela passe a ser gerida  pelas secretarias convencionais, com as mesmas medidas para as  modalidades presenciais e a distância.
Crescimento
As matriculas de nível superior em educação a distância cresceram 158  vezes entre 2000 e 2009, passando de 5.287 no primeiro ano para  838.125, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais  Anísio Teixeira (Inep).
 
O levantamento aponta que entre 2008 e 2009 número de cursos de  graduação a distância cresceram 30,4%, enquanto os presenciais, 12,5%.  Ao todo, 14,1% das matrículas em universidades eram nessa modalidade.
 
Para Moran, o crescimento não é maior devido a desconfiança. “Os  cursos superiores a distância começaram há 12 anos. Muitas instituições e  alunos entraram para ganhar dinheiro ou achando que era mais fácil que o  presencial. Estamos aprendendo a fazer educação nessa modalidade”,  avalia.
Potencial democrático, prática nem tanto
Para o professor Moran, uma das principais vantagens da educação a  distância é o potencial de democratizar o acesso ao ensino superior.  “Ela vem para atender alunos que teriam que se deslocar para capitais.  Se eles saem do interior dificilmente voltam e deixam as cidades  pequenas sem especialistas”.
É o caso da professora de matemática Patrícia dos Santos, que permanece  em uma pequena comunidade caiçara da praia do Bonete, no município de  Ilhabela (SP). Para chegar à vila só de barco ou a pé, por uma trilha de  aproximadamente 15 km a partir do centro do município.
 
A maneira que ela encontrou de aprimorar as aulas foi começar, em  2005, o curso superior de pedagogia a distância, concluído em 2007.  Antes disso, ela já tinha cursado ciências contábeis presencialmente em  São Sebastião (SP). “A maneira como dar aula aprendi na pedagogia.  Antes, eu me virava”, conta.
 
Como a comunidade não tem acesso a Internet, Patrícia acompanhava as  aulas por material impresso. “Nós tínhamos apostilas e entregávamos os  exercícios pelos Correios, quando algum morador da vila viajava para a  cidade”, conta. “Para mim, o curso presencial foi mais fácil, porque era  mais simples esclarecer as dúvidas”.
Porém, casos como o de Patrícia não são maioria de acordo com o  doutor em políticas públicas e educação, Antonio Lisboa Leitão. “Nos  lugares distantes e de difícil acesso é exatamente onde a educação a  distância não ocorre. Ela não está nas regiões fronteiriças, mas nos  grandes centros urbanos”, avalia.
 
O Relatório Analítico da Aprendizagem a Distância no Brasil,  realizado pelo Ministério da Educação e pela Fundação Getúlio Vargas,  confirma que, em 2007, a maioria dos alunos da modalidade estavam nos  grandes centros urbanos.
 
A região Sudeste concentrava 48,2% das matrículas. “Só o estado de  São Paulo, por exemplo, com 30% dos alunos do país, supera as regiões  Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que, juntas, educam 22% dos brasileiros  em EaD”, aponta o documento.
 
Formação de professores
 
Metade das matrículas em educação a distância são em cursos de  licenciatura, segundo o Censo da Educação Superior de 2009. Somente  pedagogia concentra 34,2% das matrículas. Letras, matemática, ciências  biológicas e história somam 13%.
Esse volume se justifica “pela grande demanda de professores sem  formação adequada no país”, de acordo com o Relatório Analítico. “Se for  considerada apenas a educação básica [em 2009], por exemplo, só 68,4%  dos professores têm formação superior.”
 
O professor Lisboa Leitão discorda do modelo. “Imagine se os médicos  fossem formados a distância, sem bibliotecas, sem infraestrutura para  projetos de extensão, sem iniciação científica? Porque os professores  podem?”, questiona. “A formação continuada pode ser a distância, mas a  primeira não, porque não se tem a formação intelectual e o espirito  crítico para avaliar o que é oferecido a distância.”
 
Esse é o caso da jornalista Ana Maria Amorim que fez um curso de  extensão sobre movimentos sociais e participação social a distância.  “Quando eu estava fazendo o curso, precisei viajar e pude levar meu  computador e acessar as vídeo-aulas em outro local. É uma estrutura que a  academia de hoje permite esse formato”, conta. “Porém havia grande  inexperiência nossa, enquanto estudantes virtuais, em nos adaptarmos a  uma plataforma virtual. O diálogo foi bem mais limitado que em cursos  presenciais.”
Fonte: Portal Aprendiz.