quarta-feira, 27 de julho de 2011

Extinção da Secretaria de Educação a Distância no MEC é prematura, avalia especialista


MEC/ Divulgulgação
Extinguir a Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação (MEC) — medida anunciada em janeiro pela Presidência da República — foi prematuro e aumentou o risco de a modalidade ficar em segundo plano. A avaliação é do diretor de Educação a Distância (EaD) da Universidade Anhanguera, José Manuel Moran.

“A lógica é entrar em uma normalidade, contemplando os mesmos instrumentos para as modalidades a distância e presencial”, avalia o especialista. “Porém, dependendo de como esse processo seja feito, a educação a distância corre o risco de não ser prioridade tendo em vista as outras demandas do MEC.”
Os projetos da Secretaria de Educação a Distância migraram para a Secretaria de Educação Básica ou de Ensino Superior. Segundo o MEC, a ideia é que, com o crescimento da modalidade, ela passe a ser gerida pelas secretarias convencionais, com as mesmas medidas para as modalidades presenciais e a distância.

Crescimento

As matriculas de nível superior em educação a distância cresceram 158 vezes entre 2000 e 2009, passando de 5.287 no primeiro ano para 838.125, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

O levantamento aponta que entre 2008 e 2009 número de cursos de graduação a distância cresceram 30,4%, enquanto os presenciais, 12,5%. Ao todo, 14,1% das matrículas em universidades eram nessa modalidade.

Para Moran, o crescimento não é maior devido a desconfiança. “Os cursos superiores a distância começaram há 12 anos. Muitas instituições e alunos entraram para ganhar dinheiro ou achando que era mais fácil que o presencial. Estamos aprendendo a fazer educação nessa modalidade”, avalia.

Potencial democrático, prática nem tanto

Para o professor Moran, uma das principais vantagens da educação a distância é o potencial de democratizar o acesso ao ensino superior. “Ela vem para atender alunos que teriam que se deslocar para capitais. Se eles saem do interior dificilmente voltam e deixam as cidades pequenas sem especialistas”.

É o caso da professora de matemática Patrícia dos Santos, que permanece em uma pequena comunidade caiçara da praia do Bonete, no município de Ilhabela (SP). Para chegar à vila só de barco ou a pé, por uma trilha de aproximadamente 15 km a partir do centro do município.


A maneira que ela encontrou de aprimorar as aulas foi começar, em 2005, o curso superior de pedagogia a distância, concluído em 2007. Antes disso, ela já tinha cursado ciências contábeis presencialmente em São Sebastião (SP). “A maneira como dar aula aprendi na pedagogia. Antes, eu me virava”, conta.


Como a comunidade não tem acesso a Internet, Patrícia acompanhava as aulas por material impresso. “Nós tínhamos apostilas e entregávamos os exercícios pelos Correios, quando algum morador da vila viajava para a cidade”, conta. “Para mim, o curso presencial foi mais fácil, porque era mais simples esclarecer as dúvidas”.

Porém, casos como o de Patrícia não são maioria de acordo com o doutor em políticas públicas e educação, Antonio Lisboa Leitão. “Nos lugares distantes e de difícil acesso é exatamente onde a educação a distância não ocorre. Ela não está nas regiões fronteiriças, mas nos grandes centros urbanos”, avalia.

O Relatório Analítico da Aprendizagem a Distância no Brasil, realizado pelo Ministério da Educação e pela Fundação Getúlio Vargas, confirma que, em 2007, a maioria dos alunos da modalidade estavam nos grandes centros urbanos.

A região Sudeste concentrava 48,2% das matrículas. “Só o estado de São Paulo, por exemplo, com 30% dos alunos do país, supera as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que, juntas, educam 22% dos brasileiros em EaD”, aponta o documento.

Formação de professores

Metade das matrículas em educação a distância são em cursos de licenciatura, segundo o Censo da Educação Superior de 2009. Somente pedagogia concentra 34,2% das matrículas. Letras, matemática, ciências biológicas e história somam 13%.

Esse volume se justifica “pela grande demanda de professores sem formação adequada no país”, de acordo com o Relatório Analítico. “Se for considerada apenas a educação básica [em 2009], por exemplo, só 68,4% dos professores têm formação superior.”

O professor Lisboa Leitão discorda do modelo. “Imagine se os médicos fossem formados a distância, sem bibliotecas, sem infraestrutura para projetos de extensão, sem iniciação científica? Porque os professores podem?”, questiona. “A formação continuada pode ser a distância, mas a primeira não, porque não se tem a formação intelectual e o espirito crítico para avaliar o que é oferecido a distância.”

Esse é o caso da jornalista Ana Maria Amorim que fez um curso de extensão sobre movimentos sociais e participação social a distância. “Quando eu estava fazendo o curso, precisei viajar e pude levar meu computador e acessar as vídeo-aulas em outro local. É uma estrutura que a academia de hoje permite esse formato”, conta. “Porém havia grande inexperiência nossa, enquanto estudantes virtuais, em nos adaptarmos a uma plataforma virtual. O diálogo foi bem mais limitado que em cursos presenciais.”

Fonte: Portal Aprendiz.

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