País tem 752 mil crianças e jovens com deficiência nas escolas de Educação Básica
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João Bittar/MEC |
Mariana Mandelli
Do Todos Pela Educação
Quase 80% do total de matrículas da Educação Especial estavam nas
escolas públicas em 2011, segundo o último resumo técnico do Censo
Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep). O restante, quase 20%, está nas instituições particulares de
ensino.
Hoje, a Educação Especial no País tem 752.305 matrículas, somando os
estudantes em escolas regulares e especiais. O Inep considera como
alunos especiais as crianças e jovens com deficiências físicas, mentais,
intelectuais e aqueles que apresentam superdotação e altas habilidades.
Os dados também reafirmam a tendência de crescimento do número de
alunos com deficiência em salas regulares. Contabilizando todos os
incluídos – na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, Educação
Profissional e de Jovens e Adultos (EJA) –, o aumento entre 2010 e 2011
foi de 15,3%. Em contrapartida, as escolas especiais enfrentaram uma
queda de 11,2% no número de alunos.
O ano de 2008 foi o primeiro em que o total de matrículas de crianças
com deficiência em salas regulares superou o de salas especiais.
O tema é tratado hoje, dentro do Ministério da Educação (MEC), na
Diretoria de Políticas de Educação Especial (DPEE), que faz parte da
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
(Secadi). Antes, havia uma secretaria específica para o tema.
Para o MEC, que defende a matrícula das crianças com deficiência em
salas regulares de ensino – e não em escolas especiais –, os números
mais recentes mostram a efetivação da política de Educação Inclusiva.
Nas tabelas abaixo, é possível observar a evolução da matrícula das crianças com deficiência no sistema educacional do País.
Matrículas por Etapa de Ensino – Classes Especiais e Escolas Exclusivas
Ano |
Total |
Educação
Infantil
|
Fundamental |
Médio |
EJA |
Educação
Profissional
|
2007 |
348.470 |
64.501 |
224.350 |
2.806 |
49.268 |
7.545 |
2008 |
319.924 |
65.694 |
202.126 |
2.768 |
44.384 |
4.952 |
2009 |
252.687 |
47.748 |
162.644 |
1.263 |
39.913 |
1.119 |
2010 |
218.271 |
35.397 |
142.866 |
972 |
38.353 |
683 |
2011 |
193.882 |
23.750 |
131.836 |
1.140 |
36.359 |
797 |
Diferença 2010/2011 em % |
-11,2 |
-32,9 |
-7,7 |
17,3 |
-5,2 |
16,7 |
Matrículas por Etapa de Ensino – Classes Comuns (Alunos Incluídos)
Ano |
Total |
Educação
Infantil
|
Fundamental |
Médio |
EJA |
Educação
Profissional
|
2007 |
306.136 |
24.634 |
239.506 |
13.306 |
28.295 |
395 |
2008 |
375.775 |
27.603 |
297.986 |
17.344 |
32.296 |
546 |
2009 |
387.031 |
27.031 |
303.383 |
21.465 |
34.434 |
718 |
2010 |
484.332 |
34.044 |
380.112 |
27.695 |
41.385 |
1.096 |
2011 |
558.423 |
39.367 |
437.132 |
33.138 |
47.425 |
1.361 |
Diferença 2010/2011 em % |
15,3 |
15,6 |
15 |
19,7 |
14,6 |
24,2 |
Fonte: Inep 2011.
O debate sobre a inclusão das crianças com deficiência em escolas
comuns já dura décadas. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB),
de 1996, afirma que o atendimento educacional especializado gratuito às
crianças com necessidades especiais deve se dar, preferencialmente, na
rede regular de ensino.
Na tentativa de efetivar o processo, algumas mudanças ocorreram. Desde
2008, é admitida a dupla matrícula no Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (Fundeb) dos estudantes da rede pública regular que recebem o
chamado Atendimento Educacional Especializado (AEE).
Segundo uma resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) de 2009, o
AEE deve ser ofertado em salas multifuncionais das escolas regulares,
nos centros de AEE da rede pública ou de instituições comunitárias,
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. Ele deve ocorrer no
contraturno como uma atividade complementar aos conteúdos da sala de
aula comum e deve contar com professor, material e projeto pedagógico
direcionado ao aprendizado e desenvolvimento dos alunos com deficiência.
A discussão da inclusão ganhou novo fôlego no fim de maio, quando o
relator do Plano Nacional de Educação (PNE), deputado Ângelo Vanhoni
(PT-PR), alterou o texto do relatório, garantindo o atendimento
educacional especializado dos alunos com deficiência quando a integração
em classes comuns não for possível.
Um artigo do decreto nº 7.611, assinado pela presidente Dilma Rousseff
em novembro passado, já ia nessa direção. O texto considera, para a
Educação Especial, as matrículas na rede regular de ensino, em classes
comuns ou em classes especiais de escolas regulares, e em escolas
especiais ou especializadas.
OBSTÁCULOS
Segundo especialistas em Educação Especial, apesar do número de alunos
com deficiência nas redes regulares de ensino ter aumentado, os desafios
para se atingir a inclusão ainda são muitos – como, por exemplo, o
comprometimento do gestor da escola que recebe essa criança.
“Hoje, temos as salas multifuncionais, a formação continuada, o duplo
Fundeb e outros recursos. Existe um investimento por parte do MEC e dos
governos. Mas isso não basta porque o compromisso tem que ser de todos”,
explica Elisa Tomoe Moriya Schulünzen, professora da Faculdade de
Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de
Presidente Prudente. Elisa é pesquisadora de Educação Inclusiva e já
trabalhou com mais de 250 crianças com deficiências diversas. “As
escolas devem revisar seus projetos políticos-pedagógicos e os diretores
devem solicitar as verbas, além de colocar essas metas no plano de
desenvolvimento institucional da sua escola.”
A discussão de um projeto pedagógico que contemple a diversidade dos
alunos, segundo os especialistas, é bastante complexa. “A escola da
homogeneidade foi uma ilusão do passado – era muito exclusiva. Hoje,
essa escola tem diferentes etnias, crenças, cores e alunos com diversos
ritmos de aprendizagem. A diversidade não está presente em quem tem
deficiência. Por isso, é preciso flexibilizar sem deixar ninguém de
fora, percebendo o que é desafio para cada um dos estudantes”, explica
Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita.
No entanto, ela aponta obstáculos como a infraestrutura das escolas,
especialmente as públicas, que muitas vezes não oferecem o espaço
adequado para o aprendizado e socialização das crianças com deficiência.
“Tem que ter sala de apoio, tradutor de Libras (
língua brasileira de sinais),
materiais específicos, profissional de apoio especializado, entre
outras coisas. Não adianta a criança com surdez estar numa escola
regular que não tem um tradutor para Libras, por exemplo”, afirma
Regina. “Ter deficiência não impede a criança de participar da maioria
das propostas da escola. Mas a inclusão a qualquer custo pode resultar
em não aprendizagem.”
A avaliação das crianças com deficiência também é alvo de discussão
entre os especialistas. “A inclusão demanda transformações estruturais
em toda comunidade escolar, a começar pela ruptura da ideia de que os
estudantes devem aprender da mesma forma, no mesmo ritmo, avaliados por
instrumentos padronizados de desempenho”, avalia Rodrigo Mendes, do
Instituto Rodrigo Mendes, organização sem fins lucrativos na área de
Educação Inclusiva.
Para Helena Machado Albuquerque, docente da Pós-Graduação em Educação
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP),é necessário
mais investimento na Educação Especial. “Para a inclusão ocorrer,
precisamos querer incluir. Para isso, faltam dinheiro e políticas
focadas. Precisamos investir mais em professores e materiais”,
considera.
Fonte: Todos pela Educação.